Veo 3 viraliza com vídeos de IA no Brasil e levanta debates sobre uso ético

O Veo 3, nova ferramenta de inteligência artificial de vídeo do Google, foi lançado em 28 de maio e rapidamente virou febre nas redes sociais. Capaz de gerar vídeos ultrarrealistas a partir de comandos simples, a IA conquistou os brasileiros — que estão entre os maiores usuários de IA no mundo — e já rendeu desde virais cômicos até polêmicas sobre o uso da tecnologia em produções oficiais.

IA cria Moisés e apresentadora bizarra

Um dos vídeos mais populares mostra Moisés abrindo o Mar Vermelho “no grito”, com direito a sotaque carioca e figurino egípcio. Postado no TikTok, o vídeo original bateu quase 5 milhões de visualizações no primeiro dia e gerou uma avalanche de paródias e produtos licenciados.

Outro destaque é Marisa Maiô, apresentadora fictícia criada por Raony Phillips, que viralizou ao apresentar um quadro absurdo: uma mãe teria que entregar seu bebê para adoção ao vivo. A sátira foi assistida mais de 1,2 milhão de vezes no X (ex-Twitter).

Prefeituras também aderem — e geram polêmica

O município de Ulianópolis (PA) causou debate ao usar o Veo 3 na produção de um vídeo para divulgar sua festa junina. Sem contratar atores ou profissionais locais, a prefeitura apostou na IA para cortar custos. Nos comentários, críticos apontaram a contradição: usar IA em vez de valorizar a cultura local justamente em um evento que deveria celebrá-la. “Cultura é processo, não só produto”, destacou um internauta.

Outros, porém, defenderam a inovação, comparando a polêmica à resistência inicial contra aplicativos como Uber.

O salto dos vídeos sintéticos

Para especialistas como Bruno Sartori, pioneiro no uso de deepfakes no Brasil, o Veo 3 representa um avanço enorme em acessibilidade. “Antes, você precisava de conhecimento em programação e equipamentos potentes. Agora, com um simples comando, qualquer um pode criar conteúdo com qualidade de cinema.”

Segundo ele, o diferencial da ferramenta é o controle narrativo e emocional, permitindo criar vídeos com sincronia labial e performances convincentes — algo que rivais como Runway, Kling e até o Sora, da OpenAI, ainda não oferecem com a mesma naturalidade.

Riscos: de fake news a saturação visual

Apesar das vantagens, Sartori alerta para os riscos. A tecnologia pode ser usada para manipulação política, como em campanhas eleitorais. Ele mesmo foi enganado por vídeos falsos recentemente, como o do incêndio no Louvre e o do canguru barrado em um aeroporto. “Com roteiro e contexto certos, qualquer um pode fabricar ‘verdades’ com aparência real”, adverte.

Ele também critica as plataformas digitais: “Elas têm meios para detectar vídeos sintéticos em tempo real, mas preferem lucrar com a viralização.” Para ele, uma regulação urgente é necessária.

Limitações e preços do Veo 3

Apesar do impacto, o Veo 3 ainda apresenta falhas. Muitos usuários relatam que a IA responde com falas em inglês, mesmo com comandos em português. Expressões faciais exageradas, como olhos arregalados, também comprometem o realismo.

A ferramenta tem planos pagos com teste gratuito de 30 dias. O Google AI Premium custa R$ 96,99/mês e permite gerar até 10 vídeos de 8 segundos por mês. Para vídeos mais longos, o Google AI Ultra exige um investimento de US$ 250 mensais (cerca de R$ 1.415). Mesmo assim, Sartori reforça: “Não adianta só pagar pelo acesso — o diferencial está na criatividade e no uso profissional.”




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